quarta-feira, 30 de abril de 2008

Semana sim, outra também.

Gosto do modo que Umberto Eco diferencia obras Midnight Children e o The Da Vinci Code. O professor italiano coloca que trata-se da distinção do tipo de livro que dá aos seus leitores o que eles querem e o tipo de livro que faz com que os leitores percebam aquilo que eles inconscientemente sempre desejaram.
Distinção sutil, mas essencial.
Escrevo por prazer.Gosto disso.Algumas idéias são deliberadamente estaparfúdias.Outras nem tanto. O fato é que são muitas. Se dez por cento for aproveitável estarei satisfeito.Esse total descompromisso é que me leva a escrever. E doar algumas idéias. Seria pecado cobrar por uma dádiva. Assim o acho.
Como todo sujeito que se atreve a escrever neste mundo ocidental, revelo-me um eterno aprendiz de Homero. Plenamente consciente de que há uma intrínseca conexão entre os mais variados tipos de assuntos e visões de uma mesma questão.
Talvez o leitor tenha percebido que tratei do assunto das crianças das favelas do Rio sob o foco preventivo.
A distinção de Umberto Eco faz-se mais necessária do que nunca para quem gosta de cinema.
É a distinção entre Spider -Man 2 e Tropa de Elite.
Não aprecio o modo como o cinema yankee ( corruptela de "Joãozinho" em holandês, janke) serve -se da sétima arte como um instrumento de alienação em massa. E foge da realidade para inventar estórias irreais com personagens irreais em mundos irreais.
Tropa de Elite é justamente o contrário disso.
Excesso de realidade, eu diria.
Devo apenas ressaltar um único fato: foi proposital.
Tropa de Elite foi feito com dois objetivos fundamentais: chocar e educar.
Os objetivos mudam conforme o público que se visa atingir.
Fácil denotar que o verbo "chocar" refere-se a classe média, conforme já foi salientado em artigos anteriores.
O clima de Tropa de Elite foi feito a partir do momento em que se reconheceu que vivemos numa sociedade brasileira recheada de complexidades e contradições implausíveis num país que se pretende alguma coisa.
E que precisava de um Tratamento de Choque.
Alguns criticaram.
Dizem que tudo isso não passa de uma espécie de propaganda. Outros versam que estes artigos sequer são jornalismo posto que são reflexões e não trazem notícia alguma.
Para os que não sabem a diferença entre Propaganda e Marketing de Sociologia e Filosofia da História, eu advirto: voltem aos bancos escolares.
Para os que não sabem a diferença entre Reportagem e Jornalismo de Ensaio ou Crônica, eu advirto: voltem aos bancos escolares.
A função é provocar polêmica.
Essa dialética enriquece a discussão e aguça o raciocínio.
Daí por que coloco a função educativa do filme Tropa de Elite.
Complementar do artigo anterior, as famílias carentes não conseguem livrar seus filhos deste caminho.
E, quando a família não consegue impedir a inserção no crime, entra em cena aquilo que um dia ousamos chamar de Estado.
É muito mais um recado para os jovens da favela: o crime não compensa.
E, diante de uma juventude naturalmente contestadora o argumento tem que ser contundente. Literalmente.
Daí as cenas explícitas de tortura e humilhação de jovens já corrompidos pelo tráfico.
O recado é claro.
Não obstante, antes de ser acusado de faccista ou qualquer rótulo do gênero, devo advertir:
se o Estado não levar a sério políticas sociais de repressão e prevenção ao crime, tudo terá sido em vão.
Tudo depende do Estado. E da sociedade.
Eu ainda confio em ambos.
Do contrário, os jovens em tela, em vez de algozes do João Hélio, transformar-se-ão em vítimas do sistema, como já o são.
E finalizo: políticas sociais nestas áreas são facas de dois gumes.
QUE ISSO FIQUE MUITO CLARO.
Ou se acaba com o narco-terror nestas regiões e iniciam-se obras de estruturação...
Ou aproveita-se o ano eleitoral para fazer obras para criminosos.
Grande Abraço.
Túlio

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